sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Injustiças: Parte II

Sou licenciada em Técnicas de Arqueologia, curso decorrente no Instituto Politécnico de Tomar. Recentemente fui solicitada para trabalhos numa escavação nos arredores de Lisboa, onde reparei não haver o mínimo cuidado com a preservação do sítio arqueológico; tratava-se de uma Anta. Na zona circundante ao Corredor da Anta reparei numa quantidade substancial de "pontos brancos" e, ao aproximar-me, reparei que se tratava de "pancadas" de Pico; ou seja, quem escavou aquela zona, não teve qualquer cuidado em preservar a área, nem mesmo por questões de estética ( para fins fotográficos, que fosse ).
A acrescentar a esta primeira impressão que retirei dos trabalhos efectuados no sítio, constatei que, na opinião dos orientadores da escavação, 6 ou 7 peças seriam demasiadas... para lavar. Reparei também que nas etiquetas que normalmente se juntam nos sacos onde se vão guardando as peças arqueológicas, não havia qualquer registo ( fugindo á regra e indo, sim, de encontro ás ordens dos orientadores ) da pessoa que as descobriu; ainda, não sendo por falta de sacos, as peças eram todas guardadas no mesmo saco ( pondo em risco a preservação das mesmas e denotando até uma certa falta de organização e de esmero profissional ).
No meio disto tudo, o que mais me chocou, como Técnica de Arqueologia foi o facto de partirem sempre do princípio que eu não sabia tirar coordenadas ou desenhar e me terem mandado - única e exclusivamente - escavar com o Pico ( para lá da camada de superfície ) sem parar, durante horas ( sendo que, de cada vez que eu me levantava para endireitar as costas, era de imediato chamada á atenção ).

Por fim, imponho-me só a acrescentar o seguinte: parecer-vos-á correcta a seguinte conjuntura: Uma escavação com 2 orientadores, 1 técnica de arqueologia e 1 servente de obras; 2 orientadores tiram fotografias, algumas coordenadas, algum desenho; 1 técnica de arqueologia e 1 servente escavam afincadamente com um Pico.

E ainda me chamavam de "colega"...

Gostaria, portanto, de saber se há razões para haver indignação numa situação destas, ou se é uma situação perfeitamente aceitável, legal e ética.
Posto isto, a questão mantem-se: Porque razão ainda somos, os "novos" Técnicos de Arqueologia, equiparados a verdadeiros trolhas? Será preconceito? Será ignorância? Será superioridade?
É factual que um Técnico de Arqueologia tem aptidões para orientar uma escavação, em toda a sua amplitude; fazer registos, escavar, tirar coordenadas, desenhar, fazer trabalho de laboratório, etc. Porque razão não nos deixam fazer o nosso trabalho e nos mandam "para baixo"? Além disto, os métodos de escavação variam assim tanto, para que existam técnicas em que não se trata o material com esmero? Haverá alguma técnica de escavação em que a dita seja levada a cabo apenas com um pico, apenas com o intuito de descer uns quantos níveis? Não me parece...
Afinal de contas, que competências nos traz o título de "Técnicos de Arqueologia"? Afinas de contas, de que modo podemos fazer reconhecer o nosso trabalho e a nossa ética?

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